Visão dos ares
Quem dera eu...
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Chegada de aviadores da Força Aérea Brasileira (FAB) vindos da Itália, no Rio de Janeiro, 1945.
Na noite de ontem, o podcast do qual sou anfitrião recebeu um Major Aviador da Força Aérea Brasileira.
Itapolitano... Já foi prefeito da cidade em duas ocasiões.
Um senhor de respeito, com seus 85 anos, tendo enterrado sua esposa há três semanas apenas.
Algo de diferente me incomodou durante as mais três horas de entrevista com esse convidado.
A história de vida do mesmo já é de se impressionar, isso é fato!
Ele apaixonou-se pela aviação ouvindo notícias da II Grande Guerra pelo jornal de sua casa. Ouvindo os fatos relatados sobre a Força Aérea Real inglesa.
Desejando ser herói também, ingressou no ramo até tornar-se Major Aviador com cerca de 30 anos de idade apenas.
Já tive por diversas vezes a oportunidade de conversar com homens dos ares, pilotos, alunos da área, etc...
Mas ontem eu vi nos olhos de um homem o brilho e o amor pelo céu e pelos seus astros.
Um homem que, de fato, desejou ser herói e rasgar os céus do mundo no comando de uma máquina de guerra extremamente poderosa.
O mesmo tornou-se piloto de caças e bombardeiros, segundo ele, esses eram tidos como "fazedores de viúvas".
Estimando que ele tenha nascido em 1.937 aproximadamente, tendo em vista que o mesmo tem 85 anos na data da entrevista, este Major esteve na ativa durante o "Golpe de Estado no Brasil em 1.964".
No meio dos diversos assuntos que abordamos no decorrer da entrevista, esse acontecimento foi um dos citados.
Me chamou atenção que em momento algum o termo "golpe" foi utilizado. Para o militar, o acontecimento tratou-se de uma revolução.
Eu tive confusão inclusive, quando ele começou a falar a respeito desta dita revolução, a ponto de o perguntar se tratava-se da Revolução Constitucionalista, mas fui rapidamente cortado com a resposta:
"A revolução de 1.964, onde a sociedade pediu para que os militares tomassem o poder!"
Poder ouvir os relatos de alguém que de fato esteve no "olho do furarão" durante um dos momentos que pode-se considerar um divisor de águas para a nação.
De forma tranquila e extremamente clara, nos foi explicado toda a situação em que o país encontrava-se e os motivos pelos quais as Forças Armadas subiram ao poder e ali ficaram por tanto tempo.
Tendo tido essa verdadeira aula sobre história nacional, o Major continuou relatando os problemas que a cidade também enfrentava, e com sua gestão, alguns desse problemas puderam ser erradicados.
Depois de ter falado sobre todo a âmbito político nacional nos tempos do regime militar e também, depois de ter esmiuçado sobre seus mandatos como prefeito que somaram 10 anos a frente da administração política, ele ainda nos disse sobre a política mundial.
Ele nos trouxe uma carta, escrita por ele próprio, em 2.018.
Ela foi enviada para as mais altas autoridades nacionais e também para a embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil.
Ali ele mesmo descria o que poderia ser uma "nova ordem mundial", através de fatos que estavam a eclodir e, segundo ele, os poderes deveriam atentar-se.
Ironicamente, hoje vivemos em um mundo onde diversos dos fatos alertados por ele estão acontecendo verdadeiramente, mesmo que na época da escrita da carta, ninguém se quer falava a respeito de novas guerras e coisas do tipo.
Confesso ter ficado assustado com o entendimento do Major itapolitano, e muito mais empolgado, pois há tempos não podia ter uma conversa ponderada, sem exageros e ilusões a respeito das realidades geopolíticas atuais e também sobre a verdadeira história do nosso país.
Saber que uma mente como essa está esquecida em uma casa quase abandonada em uma cidade com menos de cinquenta mil habitantes no interior de São Paulo me entristece, porém, me comprova algo importantíssimo.
O conhecimento e a inteligência dos verdadeiros sábios, nunca é para poder ter poder ou controle sobre os seus iguais, mas sim para crescimento e desenvolvimento próprio.
Alguns podem tê-lo como velho, louco, excêntrico, mas eu, por ter tido a oportunidade de conhecê-lo em vida, posso dizer que sou privilegiado, pois pude beber um pouco de seu conhecimento.
Quem dera um dia eu possa dar as costas para todos os títulos e honrarias possíveis, ir contra os caminhos de glória e aplausos para poder envelhecer em paz comigo mesmo, sabendo que as pacas, muito em breve, hão de cortar o fio de mais uma miserável vida.
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