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Foto do escritorEliseu Elias Matioli

"Vinde a mim"

A doçura que um dia tivemos.


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Charles Bertrand d'Entraygues- Schuljungen beim Spielen mit Kreiseln im Klassenraum


Na passada quinta-feira tive uma oportunidade que nunca antes havia acontecido.


Toda minha família pode se reunir a uma viagem em que decidimos passear por uma tarde em uma cidade vizinha.


Além de meus pais e noiva, meu sobrinho e seus pais também estiveram conosco.


Nessa viagem, pude notar ainda mais a delicadeza de cada gesto de um ser tão pequenino...


Com apenas dois anos e meio de idade, o jovem ser-humano ama desbravar lugares nunca vistos antes, sem medo, sem olhar para trás.


Na necessidade, não hesita em pedir ajuda. Na alegria, se volta para chamar todos, para que, dessa forma, todos participem de sua alegria.


Como você pode notar, essa criança nasceu alguns meses antes da pandemia chegar ao Brasil.


Isso significa que, no decorrer de sua recente história de vida, nunca saiu de casa para passear em lugares diversos, nem mesmo pode criar vínculos de amizade com outros da sua idade.


Mesmo sendo vítima, do que poderíamos chamar, cárcere privado, assim que vê a liberdade, não pensa duas vezes em correr em sua direção.


A doçura de seu sorriso, a despretensão de seus gestos. Observa-lo me faz refletir...


Em que momento de nossas vidas somos corrompidos e perdemos essa alegria que apenas uma criança carrega?

A imagem que segue esse breve texto é de um artista francês.


Charles Bertrand d'Entraygues é conhecido por retratar a figura de crianças, mas principalmente de crianças e famílias pobres de sua época.


Sabendo deste sutil detalhe, podemos nos voltar para tal pintura com um olhar diferente, notando que, mesmo sendo a base da sociedade, mesmo estando distantes das luxúrias da burguesia e mesmo não tendo mesas fartas nas refeições, essas crianças insistem em simplesmente brincar, sem preocupação com padrões sociais.


Elas conseguem excluir os fatores fúteis como suas vestes, onde moram, o que comem, elas preferem viver, de forma livre e alegre, mesmo que sofrida, um sofrimento que está longe do entendimento delas, e por isso, não as importa.


Meu sobrinho nunca havia brincado em parquinhos com brinquedos diversos, onde fomos, havia um espaço destinado a crianças de dois a dez anos.


Cores e brinquedos gigantes chamaram a atenção dele, assim como de qualquer outra criança que passasse por ali.


Pois bem, ele não sabia o que era de fato tudo aquilo, mas via outros como ele se divertindo ali dentro, via que era bom, por isso desejava estar lá também.


Quando deixamos que ele entrasse no espaço destinado aos pequenos, ele se voltou e pediu carinhosamente para que o tio fosse com ele.


Sou um homem de vinte e dois anos, com mais de cem quilos, acredito que o espaço infantil não fosse o local mais propício para que eu ficasse.


Mas como resistir a um convite de amor?


Tiramos nossos sapatos e aproveitamos cada momento, ambos como se fossemos crianças!


Por alguns minutos esqueci das futilidades de minha vida. Por alguns minutos provei do doce mel de ser criança novamente.

Pensar que os anos passam e que esses momentos nunca mais hão de ser os mesmos, entristece!


Quando perdemos nossa pureza? Quando deixamos de lado a alegria e nos apoiamos na busca vazia por conquistas inglórias?


Se um dia eu for contemplado com a alegria de ser pai, terei minha missão cumprida se fizer com que meu filho aproveite cada milésimo de segundo sendo ele mesmo, sentindo cada instante, fazendo de cada momento único!


Sorrir, brincar, amar. Sem hora, sem tempo para o fim, sem preocupação com o amanhã.


O "hoje" de muitos pode ser resumido em uma frase de Shopenhauer:


"Pode-se deduzir que a vida é dor, porque vontade é desejo daquilo que não se tem, é ausência, privação e sofrimento, sobretudo se considerado o fato de que satisfação duradoura e permanente objeto algum do querer pode fornecer."

Arthur Shopenhauer entendeu o que é deixar de ser criança, entendeu que, depois de perdermos nossa pureza e doçura, tudo na vida acaba sendo movido por dor e sofrimento.

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