Mercenários
Um dia foram expulsos, mas hoje dominam os templos.
Charles Bertrand d'Entraygues- Novos truques
Bela pintura de d'Entraygues não é mesmo?
O artista tem diversas obras que mostram o dia a dia de pessoas, na maioria das vezes, pessoas menos favorecidas em meio a sociedade e, diversas outras vezes, também costumava retratar crianças a brincar.
Na última publicação desse blog, "'Vinde a mim'", utilizei de uma obra deste mesmo artista para retratar a pureza infantil que outrora tivemos, mas em dado momento de nossas vidas a perdemos.
Algo notório em diversas outras pinturas do autor é o fato dele retratar crianças paramentas com roupas típicas das celebrações e rituais católicos.
A quem diga que esse tipo de retração das jovens crianças soava como um protesto a Igreja, um método de "ataca-la" de forma indireta e sutil, com uma demonstração que a primeira vista, nada quer dizer além de jovens a brincar.
Os anos em que d'Entraygues viveu foram extremamente conturbados (1850-1929), e talvez esse fato possa transparecer mais a possibilidade de pinturas como essa, serem uma crítica a Igreja Católica.
Retratar crianças vestidas como Cardeais pode ser tido como um "recado" que o autor queria mostrar aos membros do Colégio Cardinalício da época.
Sejam mais como as crianças!
Nenhuma informação que li sobre o autor dizia que, de fato, era isso que ele queria dizer com essas obras de arte, porém, essa leitura não pode ser desprezada, já que na época do artista a Igreja passou por diversos movimentos, um deles foi a negociação que resultou no "Tratado de Latrão", onde o ditador Benito Mussolini, entrega ao Papa Pio IX o que seria o "Estado da Cidade do Vaticano".
Durante o tempo de vida de Charles, ele acompanhou as tropas francesas ocupando terras que, posteriormente viriam a ser papais.
É claro que existem necessidades políticas e diplomáticas no ceio de toda fé, mas podemos perceber que o pintor francês, talvez não visse com bons olhos algumas ambições e atos dos homens que compunham a Igreja.
Observando a obra com olhos da atualidade, não há como desprezar que tal crítica, se fosse proposital de fato, é muito atual para nós e nossas igrejas.
Em nossos pastores, sejam eles de quaisquer credo, o quanto a eles falta a pureza das crianças?
Nos deparamos diariamente com igrejas que prometem a "Glória de Deus" em troca de dinheiro humano, homens e mulheres que ignoram "A Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus".
A carência de uma sociedade frágil e fraca faz com que pessoas de má índole, como esses falsos profetas, tenham cada dia mais voz e poder.
Os templos são lugares com coaches que ensinam ao povo como viver em um mundo utópico, onde tudo é lindo, ou ainda, falam mais sobre suas festas e eventos do que sobre a própria fé da denominação do povo que o tem por pastor.
A pergunta que não cala é, se o Cristo, muitas vezes professado por esses homens que atuam como mercenários em meio ao povo, estivesse aqui, vendo o que é feito, como se fosse Sua obra, seria em momentos assim que Ele diria “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”, da forma como nos é dito na passagem dos vendilhões do templo (João 2,13-25).
Até onde a fé é verdadeira, partindo de pastores que prezam mais por suas casas e carros, do que pela salvação de seu povo?
Dentro do Credo Católico e em diversas denominações protestantes, acredita-se no Espírito Santo, que age, sendo Deus, em meio aos homens. Sabendo disso, é quase impossível associar a figura de determinados pastores a ações do "Espírito de Deus".
Quanta ganancia, quanta luxúria, quanto desejo carnal, como dizem os mais religiosos, "quanta sujeira do pecado".
Se Charles Bertrand d'Entraygues ficou inquieto mesmo estando em um tempo onde São João Bosco fundou os Salesinos, onde o Dogma da Imaculada Conceição fora proclamado por Pio IX, onde a Virgem de Lourdes aparece a Santa Bernadete, onde Leão XIII prepara o renascimento do Tomismo e o mesmo papa escreve a encíclica "Rerum Novarum", onde tratava de questões levantadas durante a Revolução Industrial e as sociedades democráticas no final do século XIX, rejeitando o socialismo e o capitalismo irrestrito, enquanto defendia os direitos dos trabalhadores e à propriedade privada.
Quem dirá nós, que vivemos em tempos onde não vemos homens e mulheres agindo em santidade em nome de um Deus, mas sim, agindo sempre conforme seus interesses e necessidades, incluindo Deus em seus discursos para poder persuadir mais o povo.
Até quando precisaremos pintar os líderes religiosos como sendo crianças, para que eles possam talvez, agir com tal pureza e despretensão?
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