Cale-se!
Vale impor limite ao humor?
Leonardo de Lima Borges Lins- Leo Lins
Recentemente o Brasil foi surpreendido com o demissão do humorista Leo Lins do SBT.
O mesmo ocupava um cargo no elenco do programa "The Noite" desde que o programa integrava a grada da emissora concorrente, Band, com o nome de "Agora é Tarde".
Já há muitos anos o artista demonstra um tipo de humor mais ácido, que trás à tona temas tidos como delicados pela maior parte da sociedade.
Leo Lins é conhecido pelas suas piadas com minorias, sendo elas pessoas acima do peso, membros da comunidade LGBTQIA+, portadores de nanismo, entre outros.
Ele também destaca-se quando se fala em criticar políticos através de um bom e verdadeiro humor. Com muita ironia e cinismo, Leonardo é colecionador de tentativas de censura da parte de diversos políticos. Em muitas cidades por onde passa com seus shows, incomoda em larga escala essa classe.
Esse perfil de humor nunca foi segredo para ninguém que conhece o trabalho do artista!
Desde de antes da contratação do SBT, Leo Lins atuava dessa forma sobre os palcos e em suas redes sociais, sem deixar ninguém escapar de suas "ofensas" e "alfinetadas".
Entretanto, no dia 04 de julho de 2022, o humorista foi demitido da emissora de TV após ter feito uma piada em um show em 2018.
Isso mesmo! Quatro anos após a piada ter sido feita, a internet a reviveu com uma denotação pejorativa e não cômica.
Depois de haver uma construção de assunto e diversas outras piadas já terem sido proferidas, Leonardo disse:
Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia! O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e estão todos felizes”.
É uma piada que trás principalmente uma crítica a falta de água na região nordeste no Brasil, onde a figura de uma criança com hidrocefalia (aumento anormal do fluido cefalorraquidiano dentro da cavidade craniana) é tida como sendo a única "coisa" a ter a existência de água na região.
O julgamento da piada ter sido boa ou não, não é o ponto de discussão que surgiu entre a mídia e diversas outras instituições, as críticas surgiram diante da utilização de um deficiente físico para a propagação de uma piada que envolve diretamente a deficiência.
O que me causa espanto é que algumas pessoas ainda se surpreenderam ao ver algo do tipo partindo de humoristas como o em questão.
Leo Lins é conhecido por todo o Brasil por ter esse estilo de humor, e seu público, nos shows e na internet, esperam isso dele.
Todas as apresentações desse profissional tem o esgotamento de ingressos em pouquíssimo tempo, seus vídeos tem milhões de visualizações e sua agenda é cheia por longos períodos, com diversos shows e eventos já confirmados.
Tudo isso indica que há um grande público que consome esse tipo de comédia, seja ela boa ou não aos olhos do resto da sociedade!
A "cultura do cancelamento" infelizmente foi mais forte, a porto de tirar um profissional do elenco do programa de maior audiência nas noites da TV aberta.
É claro que a liberdade de Leonardo em poder propagar piadas como essas não o deixa imune das consequências que existam. Porém, será essa demissão proporcional ao peso da piada?
O ponto é que, a alta cúpula do SBT tem tanta liberdade quanto o humorista, dessa forma é de pleno direito dos mesmos demitir ou contratar quem quer que eles queiram.
Mas e no mundo virtual?
Os ataques e críticas ao artista são verdadeiramente legítimos e condizentes a uma "represaria humorística"?
O quanto a hipocrisia domina os homens a ponto deles esperarem que um comediante, no ato do seu trabalho, faça, ao invés de um show, uma palestra de conscientização?
Infelizmente a sociedade frágil mantém-se em uma bolha que idealiza o mundo utópico, onde nada fere, frustra ou diverge.
Seria cômico se não fosse trágico.
Enquanto cenários como esses são montados diante de nossos olhos, nos calamos, mas não para apoiar o combate ou a cura de determinada doença, e sim para simplesmente atacarmos e diminuirmos um artista em meio o ato do seu trabalho, para que, dessa forma, possamos parecer mais civilizados e mais distantes do homem louco que ousou conhecer o mundo fora da caverna.
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